DIAS ATRÁS, sento na mesa de pôquer. Um parceiro, duas ou três cadeiras à minha esquerda, faz o comentário, eufórico:
“Assisti um filme que você ia adorar, Pedrão!”
Olho para as minhas cartas. Valete e dois. Lixo. Saio da jogada.
“Que filme, Escobar?”
Escobar olha para as cartas dele. Deviam ser um lixo também, porque as joga fora.
“Desafio à Corrupção. Já viu?”
“Não. Mas, só pelo título, imagino que seja pior do que as minhas cartas.” Ele dá risada. Eu continuo: “Deixa eu adivinhar. Pelo nome clichê, deve ser um policial com Al Pacino e Denzel Washington.”
Sou recriminado por Escobar:
“Jornalista é louco para criticar tudo, né? Até mesmo o que não conhece! Pois não falo mais nada do filme. Vai assistir. Depois, me conta o que você achou.”
REALMENTE, eu estava errado. Percebi já na locadora, quando vi a caixinha de Desafio à Corrupção. Era um filme sobre sinuca, com Paul Newman no papel principal (um chacal que vivia de apostas). Adoro apostas, adoro sinuca. Adorei o filme.
Mas, na minha inocência, fiquei sem entender um detalhe: onde estava a corrupção? E o combate a ela? Só quando assisti aos extras do DVD pude enxergar a verdade óbvia: o título original, em inglês, era The Hustler. Numa tradução direta, o vigarista.
O tradutor, portanto, fizera o favor de adicionar uma “corrupção” (que não havia), um “combate” a ela (que não ocorreu) e de limar o “vigarista” (que lá estava integralmente). Curioso.
Em Desafio à Corrupção, não foi a primeira vez que tradutores mataram o nome de um filme. Isso acontece com frequência – e o resultado é, normalmente, assombroso.
Mas eles acertam também. Há de se admitir: às vezes, até melhoram o original. Caso, por exemplo, de The Gratuate (o graduado), que virou o clássico A Primeira Noite de um Homem.
Decidi, então, fazer uma lista de “Os 15 Maiores Assassinatos de Títulos de Filme” pelos tradutores brasileiros. Alguns crimes foram hediondos. Já outros, vieram para o bem.
ASSASSINATOS HEDIONDOS
1) Annie Hall (deveria ser “Annie Hall”, mas virou “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”)
2) The Good, the Bad and the Ugly (deveria ser “O Bom, o Mau e o Feio”, mas virou “Três Homens em Conflito”)
3) The Hustler (deveria ser “O Vigarista”, mas virou “Desafio à Corrupção”)
4) Slumdog Millionaire (deveria ser “Milionário da Favela”, mas virou “Quem Quer Ser um Milionário?”)
5) The Godfather (deveria ser “O Padrinho”, mas virou “O Poderoso Chefão”)
MATARAM – MAS ESCAPARAM COM UMA BOA FUGA
1) From Russia With Love (deveria ser “Da Rússia, com Amor”, mas virou “Moscou contra 007”)
2) Home Alone (deveria ser “Sozinho em Casa”, mas virou “Esqueceram de Mim”)
3) Scream (deveria ser “Grito”, mas virou “Pânico”)
4) The Sting (deveria ser “A Ferroada”, mas virou “Um Golpe de Mestre”)
5) Vertigo (deveria ser “Vertigem”, mas virou “Um Corpo que Cai”)
CRIMES DO BEM
1) The Sound of Music (deveria ser “O Som da Música”, mas virou “A Noviça Rebelde”)
2) The Graduate (deveria ser “O Graduado”, mas virou “A Primeira Noite de um Homem”)
3) Shane (deveria ser “Shane”, mas virou “Os Brutos Também Amam”)
4) Giant (deveria ser “Gigante”, mas virou “Assim Caminha a Humanidade”)
5) Analyze That (deveria ser “Analise Isso”, mas virou “Máfia no Divã”)
Dias atrás, sento na mesa de pôquer. Um parceiro, duas ou três cadeiras à minha esquerda, faz o comentário, eufórico:
“Assisti um filme que você ia adorar, Pedrão!”
Olho para as minhas cartas. Valete e dois. Lixo. Saio da jogada.
“Que filme, Escobar?”
Escobar olha para as cartas dele. Deviam ser um lixo também, porque as joga fora.
“Desafio à Corrupção. Já viu?”
“Não. Mas, só pelo título, imagino que seja pior do que as minhas cartas.” Ele dá risada. Eu continuo: “Deixa eu adivinhar. Pelo nome clichê, deve ser um policial com Al Pacino e Denzel Washington.”
Sou recriminado por Escobar:
“Jornalista é louco para criticar tudo, né? Até mesmo o que não conhece! Pois não falo mais nada do filme. Vai assistir. Depois, me conta o que você achou.”
Realmente, eu estava errado. Percebi já na locadora, quando vi a caixinha de Desafio à Corrupção. Era um filme sobre sinuca, com Paul Newman no papel principal (um chacal que vivia de apostas). Adoro apostas, adoro sinuca. Adorei o filme.
Mas, na minha inocência, fiquei sem entender um detalhe: onde estava a corrupção? E o combate a ela? Só quando assisti aos extras do DVD pude enxergar a verdade óbvia: o título original, em inglês, era The Hustler. Numa tradução direta, o vigarista.
O tradutor, portanto, fizera o favor de adicionar uma “corrupção” (que não havia), um “combate” a ela (que não ocorreu) e de limar o “vigarista” (que lá estava integralmente). Curioso.
Em Desafio à Corrupção, não foi a primeira vez que tradutores mataram o nome de um filme. Isso acontece com frequência – e o resultado é, normalmente, assombroso.
Mas eles acertam também. Há de se admitir: às vezes, até melhoram o original. Caso, por exemplo, de The Gratuate (o graduado), que virou o clássico A Primeira Noite de um Homem.
Decidi, então, fazer uma lista de “Os 15 Maiores Assassinatos de Títulos de Filme” pelos tradutores brasileiros. Alguns crimes foram hediondos. Outros, porém, vieram para o bem.
Ao começar a ler o post fiquei uma pouco desapontada!
Fazer tradução não é fácil… Ainda mais de título de filme!
Há um processo que chamamos de “domesticação”.
Concordo que há uma distorção semântica, provocando uma alteração dos elementos culturais, porém, ao fazer isso, aproximamos o título ou a história do filme para a realidade da língua traduzida, para a cultura do país que receberá a informação.
Está perdoado por dizer que os tradutores acertam também, mas é sempre difícil ouvir uma crítica, e isso ocorre com frequência, de algo que estudamos e entendemos porque está daquele jeito, no caso, as traduções.
Oi, Luciana. Tudo bom?
Tenho certeza que traduzir o título de um filme não é fácil. Alguns tradutores fazem, na minha opinião, um trabalho belíssimo. Citei alguns exemplos no post.
Outros, porém, pecam — e feio.
No caso de “The Hustler”, a tradução ficou sem sentido. “Desafio à Corrupção” não vende a ideia do filme.
E “The Godfather” perdeu toda a sutileza do nome, que deveria ser ” O Padrinho”. Ok, “O Poderoso Chefão” resume bem a história. Mas perde o caráter artístico.
achei que faltou “Breakfast at Tiffany’s” que virou “Bonequinha de Luxo” na sua lista 😉
Oi Pedro!
Não poderia dar minha opinião sobre o título do filme “The Hustler”, pois não assisti, mas pelo seu comentário sobre o filme, concordo com seu ponto de vista.
Já no caso do “O Poderoso Chefão”, realmente acho que o título condiz com o filme, mas concordo também que fica com um caráter astístico a tradução literal para “The Godfather”.
Também não concordo com todas as traduções de títulos de filmes, livros e legendas, mas como já estudei isso, acho que compreendo melhor o que o tradutor passou para chegar naquele resultado.
Mas enfim, gostei do seu post e dos comentários!
Fala Pedro, tudo bom?
Curti a ideia do post. Sempre pensei que Vertigem caia BEM melhor que “Um corpo que cai” (trocadilho não intencional).
Mas tem algumas coisas que eu discordo. Tomei a liberdade de postar as minhas impressões. Seguem abaixo. Abraço!
ASSASSINATOS
Discordo em 1, 4 e 5.
1) esse é mais pessoal. Não gosto muito de filmes com nome de gente (com exceções, como “Amadeus”). Achei que o nome caiu bem.
4) acho que muita gente iria encarar Milionário da Favela um título um tanto rude, digamos assim. Quem quer ser um milionário tem mais apelo, até pelo fato do bordão do Sílvio Santos implícito (Quem quer dinheiro?).
5)Puts, acho que o impacto do nome Poderoso Chefão é bem maior que O Padrinho. Além do mais, não distorce a ideia do filme.
Concordo quanto a 2 e 3.
MATARAM MAS ESCAPARAM
Eu colocaria Vertigo em assassinatos, e The Sting em crimes do bem, tendo em vista que “A ferroada” seria um título ruim e de pouco apelo. Quanto ao resto, nada a discordar.
CRIMES DO BEM
Acho que a seleção desse tópico foi ótima. A tradução literal desses seria um assassinato.
Oi, Thiago. Td bom?
Também não costumo gostar de títulos de filme com nome de gente. “Noivo neurótico, noiva nervosa” não é ruim. Mas eu acho que soa estranho, não sei por quê!
Sobre “O Poderoso Chefão”, acho um ótimo título também. O único problema, na minha opinião, é que perde a sutileza do “Padrinho”.
E, pensando bem sobre o “Slumdog Millionaire”, devo concordar com você: “Quem quer ser um Milionário?” fica melhor do que a tradução literal.
Grande abraço!